Nessa carta ele "abre o coração" aos bispos e a todos os fiéis católicos. Como um pai falando a seus amados filhos, expõe não só suas razões para estar trabalhando pela total reconciliação da FSSPX com a Igreja, mas também sua amargura pelas duras críticas que recebeu dos próprios católicos, de sua preocupação pelo fato da Fé não vir recebendo o devido alimento em várias regiões do mundo, ensina mais uma vez a verdadeira chave de leitura do Concílio Vaticano II e espera com tudo isso contribuir para paz dentro da Igreja Católica Apostólica Romana.
Em alguma das reportagens que li sobre o assunto, um repórter bem notou que não é comum um papa escrever uma carta para se justificar perante os bispos. De fato, é incomum tal atitude em um Soberano Pontífice. E até por isso, o gesto de Bento XVI ganha uma relevância maior!
Porém, incomum é também a terrível onda de ataques que o Santo Padre vinha recebendo por conta do levantamento das excomunhões dos quatro bispos ordenados por Marcel Lefebvre em 1988, principalmente porque na esteira desse gesto foi divulgada a desastrosa declaração de Richard Williamson sobre o Holocausto (sem esquecer que esse gesto do papa para com a FSSPX é ato contínuo com a liberação da Missa de São Pio V feita através do Motu Próprio Summorum Pontificum, que por si só já tinha despertado a ira dos inimigos da Igreja e do Papa).
Críticas ao Papa e à Santa Igreja sempre existiram e sempre existirão. O incomum e surpreendente das críticas aos recentes atos do Santo Padre é a origem destas: os bispos. Aqueles que deveriam ser os primeiros a se levantarem em defesa do Sucessor de Pedro, são os primeiros a fazerem exatamente o contrário, engrossando as já largas fileiras dos que atacam o Corpo Místico de Cristo.
Por isso, de forma amargurada, afirma o Santo Padre em sua carta que "desencadeou-se assim um avalanche de protestos, cujo azedume revelava feridas que remontavam mais além do momento" (...) "Fiquei triste pelo fato de inclusive católicos, que no fundo poderiam saber melhor como tudo se desenrola, se sentirem no dever de atacar-me e com uma virulência de lança em riste".
Vários bispos do mundo inteiro ergueram suas vozes raivosas contra o Santo Padre! Os mesmos bispos tão tolerantes e ecumênicos com hereges e pagãos; tão benevolentes com as mais absurdas invencionices litúrgicas, feitas sob a desculpa de que se trata de legítima criatividade e inculturação; tão preocupados com a inclusão das minorias; esses mesmos bispos disseram um sonoro NÃO ao Papa e à Fraternidade Sacerdotal São Pio X.
Hereges e pagãos são bem-vindos, a FSSPX não! As maiores aberrações e sacrilégios são tolerados, mas a Missa de São Pio V não! Se preocupam muito com a "inclusão" das ditas minorias, mas a FSSPX não pode ser incluída! Todo o rigor da lei que deixou de ser exigido dos hereges, foi agora cobrado para que a Fraternidade fosse aceita.
Parece até que existe um certo medo do que a FSSPX é capaz de fazer pela Igreja. Creio que o rigor doutrinário, a piedade litúrgica e a postura sacerdotal deles sejam duras de mais para os modernos e modernistas clérigos católicos.
Muitos justificaram que não se poderia aceitar o retorno de Richard Williamsom por conta de sua posição em relação ao Holocausto. Ora, desde quando o Holocausto virou Dogma de Fé cuja negação implica em heresia e afastamento da Igreja? Verdadeiros ataques a São Doutrina fazem os adeptos das mais absurdas teologias e não vemos os senhores bispos "rasgando suas vestes" como aconteceu com Williamsom... que, repito, questionou certos pontos de um fato histórico e não de um Dogma de Fé.
Claro que a Fraternidade possui problemas e sua situação dentro da Igreja ainda não está concretizada. Tanto que o Papa deixa claro que "enquanto as questões relativas à doutrina não forem esclarecidas, a Fraternidade não possui qualquer estado canónico na Igreja, e os seus ministros – embora tenham sido libertos da punição eclesiástica – não exercem de modo legítimo qualquer ministério na Igreja". Assim, todo esse rigor e zelo de muitos bispos mundo afora para aceitar a FSSPX em boa parte está correto e se justifica. Minha questão é: por que esse mesmo rigor e esse mesmo zelo não se vê com pagãos, hereges, maus sacerdotes e maus fiéis?
E não foi só em relação ao levantamento das excomunhões. Tristemente, uma parcela considerável do episcopado mundial parece estar fora de si.
Recentemente houve um rebuliço tremendo no episcopado austríaco por causa da nomeação do pe. Gerhard Wagner para bispo auxiliar da diocese de Linz. Qual acusação recai sobre esse sacerdote? Ser pura e simplesmente católico! Pe. Wagner é fiel a Sã Doutrina, ao Papa e ataca com destemor o erro, ou seja, é um daqueles que a mídia adora rotular de "conservador". A Conferência Episcopal da Áustria, revoltada pela nomeação de um sacerdote católico para bispo da referida diocese, infernizou (sim, a palavra é essa) de tal forma a vida do Papa que este se viu compelido a cancelar a nomeação do pe. Wagner!
Onde iremos parar quando bispos se levantam rebelados contra um simples ato de governo do Santo Padre, que é afinal a autoridade competente para tal? Qual o conceito de liberdade que está por detrás de tais atitudes?
É doloroso ver tais reações descabidas ao Santo Padre. Ver um episcopado que "morde e devora a si mesmo como expressão de uma liberdade mal interpretada".
Em seguida o Papa trata também do Concílio Vaticano II e sua correta inserção na história da Igreja. Infelizmente, tanto modernistas quanto tradicionalistas enxergam, erroneamente diga-se, no concílio uma ruptura com o passado. Aqueles só aceitam o Magistério posterior ao concílio, estes só o anterior. Erram os dois grupos. E o Santo Padre deixa isso bem claro: "Não se pode congelar a autoridade magisterial da Igreja no ano de 1962: isto deve ser bem claro para a Fraternidade. Mas, a alguns daqueles que se destacam como grandes defensores do Concílio, deve também ser lembrado que o Vaticano II traz consigo toda a história doutrinal da Igreja. Quem quiser ser obediente ao Concílio, deve aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não pode cortar as raízes de que vive a árvore".
O Papa então reponde àqueles que questionaram se não havia coisas mais importantes com que se preocupar do que a FSSPX. Afirma o Santo Padre qual é sua prioridade: "Conduzir os homens para Deus, para o Deus que fala na Bíblia: tal é a prioridade suprema e fundamental da Igreja e do Sucessor de Pedro neste tempo". E para alcançar tal objetivo, buscar a unidade interna é fundamental até para garantir a credibilidade da pregação cristã. E citando o número de membros e a estrutura da Fraternidade, o Papa questiona se seria justo ignorá-los completamente.
Ainda nesse ponto das prioridades de seu pontificado, Bento XVI faz uma afirmação que merece uma reflexão: "No nosso tempo em que a fé, em vastas zonas da terra, corre o perigo de apagar-se como uma chama que já não recebe alimento, a prioridade que está acima de todas é tornar Deus presente neste mundo e abrir aos homens o acesso a Deus"
A gravidade dessas palavras é tremenda! A fé em muitos lugares está sumindo porque não é "alimentada"! O povo está perdendo a fé! Só não percebe isso quem observa a realidade com 'óculos cor-de-rosa'.
O que quer dizer o papa quando afirma que a fé não está recebendo alimento?
Pra mim está claro e o Brasil é um exemplo. A fé não é alimentada quando no lugar da via-sacra e da meditação da Paixão de Cristo, se reflete sobre um tema social qualquer (esse ano os fiéis ficarão sabendo dos males da violência em que vivemos, mas muitos não terão a menor noção da violência que sofrem as almas que estão no Inferno). A fé não é alimentada quando a Santa Missa deixa de ser a atualização do único e eterno sacrifício de Nosso Senhor, para virar um "encontro fraterno dos irmãos ao redor da mesa". Quando ela deixa de ser celebrada com o zelo e gravidade que exige, para ser celebrada com desleixo e sem a mínima piedade. A fé do povo diminui quando o Santíssimo Sacramento é tratado com indiferença (isso quando não ocorrem sacrilégios terríveis) e esquecido em algum canto da igreja, sem receber adorações solenes ou mesmo uma simples e silenciosa companhia de uma alma sacerdotal (quanto sacerdotes fazem ao menos uma breve adoração diária e incentivam tal prática?). Quando a catequese deixa de ensinar a São Doutrina. Quando padres e bispos tratam de inúmeros temas sociais e políticos em suas homilias, mas se esquecem completamente de falar das coisas do alto, aquelas que realmente importam (Lc 10, 38-42).
Todas essas omissões não só deixam de alimentar a fé do povo, como vão minando o que ainda existe de visão sobrenatural. Nesse sentido, afirma o Papa que "o verdadeiro problema neste momento da nossa história é que Deus possa desaparecer do horizonte dos homens e que, com o apagar-se da luz vinda de Deus, a humanidade seja surpreendida pela falta de orientação, cujos efeitos destrutivos se manifestam cada vez mais".
Bento XVI registra ainda sua sensação de ser bode expiatório de toda a humanidade... "Às vezes fica-se com a impressão de que a nossa sociedade tenha necessidade pelo menos de um grupo ao qual não conceda qualquer tolerância, contra o qual seja possível tranquilamente arremeter-se com aversão. E se alguém ousa aproximar-se do mesmo – do Papa, neste caso – perde também o direito à tolerância e pode de igual modo ser tratado com aversão sem temor nem decência".
A Igreja, em especial na pessoa de seu líder máximo, é esse grupo que não merece a tolerância dos que tanto clamam por tolerância. Da Igreja e do Papa se exige toda a tolerância e benevolência possível, mas para eles só restam duras pedras atiradas sem a menor piedade. Para aqueles que empunham o escudo da Fé e a espada da Palavra e estão no fronte combatendo pela Igreja junto com o Papa, essa situação é bem conhecida (2Tm 3, 12). E tal perseguição só é suportada com a ajuda de Nosso Senhor Jesus Cristo, que muito mais foi perseguido e sofreu injustamente por todos nós.
Repito o que já disse aqui nesse blog, pra quem achava que Joseph Ratzinger, idoso e tímido, faria o chamado pontificado de transição, ele está demonstrando justamente o contrário. Bento XVI, com muita coragem e destemor, vem enfrentando uma oposição descomunal dentro de seu próprio rebanho, simplesmente porque quer pregar a Sã Doutrina da Salvação, que muitos já não suportam (2Tm 4, 3).
Desde o início ele sabia que enfrentaria isso. Todos se lembram do que ele disse na Missa de início do seu pontificado: "Rogai por mim, para que não fuja, por medo, diante dos lobos".
E ele, verdadeiramente, não está fugindo!
Continuemos rezando pelo Santo Padre, para que continue enfrentando valentemente os lobos, especialmente aqueles que se disfarçam de ovelhas.
Oremos pelo nosso beatíssimo Papa Bento XVI. O Senhor o conserve, lhe dê vida e o torne feliz na terra, e não o entregue em poder dos seus inimigos. Amém.
2 comentários:
Nada que venha do Vaticano interessa. Se o papa não vivesse num palácio de reis mundanos, com roupas de reis, sentado no tronos de reis, com prestígio e honras de reis, o que diria interessaria, mas a distância entre o papa e Simão Pedro é imensa. Nada tem a ver um com o outro.
Simão não tinha dinheiro nem se vestia de rei, mas tinha o poder de Deus. Os do Vaticano tem tudo a ver com o mundo, também poder, e tinham mais poder ainda quando detinham o poder de matar quem lhes aprouvesse.
Se Jesus ou Simão Pedro pudessem voltar ao mundo hoje para pôr as coisas em ordem, a primeira coisa que fariam seria leloar o país Vaticano com porteira fechado e distribuir o dinheiro com os mais necessitados.
Ou será que o sacerdote julga que o Simão Pedro de sandálias vestiria as roupagens de Bento 16, ou mesmo colocaria na cabeça a Mitra de brilhantes ainda usa da or Pio XII?
Então, o Vaticano é uma piada. O suspreendente é que muitos se deixam enganar facilmente pelo visual... Só visual...
Waldecy Antonio Simões
www.segundoasescrituras.com
Sr. Waldecy,
Piada é o seu site! Onde o senhor pretende provar tudo pelas Escrituras.
A propósito, para o senhor, qual é a coluna e o sustentáculo da Verdade?
Quero ver mesmo é o senhor provar com a própria Bília que ela é a base de toda a doutrina cristã. Aliás, como o senhor pode me garantir a autenticidade dos livros bíblicos do Novo Testamento usando a doutrina da Sola Scriptura. Existe na bíblia algum versículo contendo a lista do cânon bíblico? Ou o senhor é obrigado a recorrer a Tradição para saber quais livros devem estar lá? E porque livros como o Pastor de Hermas ou um dos muitos evangelhos existentes na igreja primitiva não constam no cânon? Quem decidiu que esses livros não deveriam estar na Bíblia?
No aguardo de sua resposta,
Luiz Henrique
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