quinta-feira, 26 de junho de 2008

Beleza e silêncio na liturgia

Já comentei antes que esse blog não é exclusivamente sobre Liturgia, mas que posso fazer se o tema é tão belo e fascinante? =)

Em entrevista concedida a ZENIT, a professora de arte Cristina Langer falou sobre a beleza da liturgia. Ela tratou do mesmo tema em conferência no Simpósio Teológico comemorativo do centenário da diocese de Ribeirão Preto (São Paulo).

Recomendo a leitura completa dessa entrevista, mas aqui gostaria de ressaltar dois pontos.

Afirma a professora Cristina que "Na Liturgia a beleza é o próprio motivo pelo qual a celebração se dá: para Deus, com Ele e Nele. Qualquer motivo que não seja este esconde a Beleza presente ao invés de revelá-la".

Eis um conceito que está bastante deturpado atualmente: a Missa é para Deus, com Deus e em Deus. Hoje, por má fé ou por má formação, muitas vezes se celebra a Missa pensando-se mais em agradar o povo do que a Deus, esquecendo do fim principal dela.

E, conforme afirma a professora Cristina, quando tristemente se perde essa referência, ou melhor, quando se troca essa referência, quando Deus deixa de ser o centro, toda a beleza da liturgia se esvai...

Esse ponto me fez lembrar algo que li na biografia do Papa escrita pelo vaticanista Andrea Tornielli: "Bento XVI - O Guardião da Fé". Nesse livro o autor cita vários trechos de livros escritos pelo então cardeal Jospeh Ratzinger, sendo que a citação abaixo consta em sua autobiografia (o destaque é meu):

"Deste modo, desenvolveu-se, de fato, a impressão de que a liturgia seja 'feita', que não seja algo cuja existência nos precede, algo que nos 'é dado', mas algo que depende das nossas decisões. Disto se segue, como consequência, que não se reconheça essa capacidade de decisão só aos especialistas ou a uma autoridade central, mas que, definitivamente, qualquer 'comunidade' queira se dar uma liturgia própria. Mas, quanda uma liturgia é algo que qualquer um faz por si mesmo, então desaparece aquela que é a sua verdadeira qualidade: o encontro com o mistério, que não é um produto nosso, mas a nossa origem e a fonte da nossa vida."

Essa perda da noção de mistério da Missa, de sua sacralidade e de que é, como ressalta Joseph Ratzinger, algo que nos precede, que não podemos manipulá-la livremente, pois a recebemos da Igreja, de Deus!, tem reflexos terríveis na fé do povo e na própria compreensão do que seja a Missa.

Por uma péssima interpretação da reforma desejada pelo Concílio Vaticano II e das possibilidades de escolha oferecidas pelo atual Missal, o que tem ocorrido com extrema frequência são liturgias criadas a partir de preferências do sacerdote, do liturgista ou do povo; menos liturgias conforme "nos foi dado" por aquela que é quem de fato determina o que deve e o que não deve ser feito: a Igreja.

Conforme tem sido feito, a beleza e o mistério da Missa desaparece... E o que fica? Ou melhor, o que substitui o mistério, "fonte de nossa vida"? Sim, porque o essencial da Missa sendo retirado ela deixa de atrair as almas, pois é Cristo elevado quem atrai (Jo 12,32). Ainda que a Eucaristia ainda esteja lá, tanto entulho é jogado sobre ela, que acaba por se perder suas inúmeras graças. Seria impossível listar aqui o que se antepõe à Eucaristia, tamanhã a criatividade aliada a desobediência: músicas barulhentas e muitas vezes heréticas, teatros, danças, confraternizações com "a pessoa que está do seu lado", etc... etc.. etc... E Deus? Se perdeu em meio a tanta criatividade...

"A liturgia não se tornará nova, pessoal e verdadeira, através de invenções de palavras e brincadeiras banais, mas sim pela coragem dos que se põe a caminho para alcançar o Imenso; aquilo que, através do rito, desde sempre nos precedeu e que nós nunca conseguiremos apanhar." (Introdução ao espírito da liturgia, Joseph Ratzinger, pg. 126, ed. Paulinas).

Um outro aspecto levantado pela professora Cristina diz respeito ao silêncio: "A própria Liturgia tem na sua sequência uma série de momentos de silêncio, que não são espaços vazios de tempo, mas espaços de tempo repletos da Presença. Ao preencher estes momentos com músicas ou palavras supérfluas, encobrimos o Essencial".

E como as músicas têm preenchido a liturgia... Músicas tem substituido até trechos que não poderiam ter suas letras alteradas, como o Glória e o Pai-Nosso! Ou ainda, quantas músicas são cantadas nas Missas com letras absolutamente heréticas! Cria-se até Missas para agradar gostos específicos, eu mesmo já tive a infeliz experiência de assistir a uma Missa Heavy-Metal.

Prova de que o essencial, Cristo, se perdeu é o fato de ser muito comum alguém afirmar que prefere essa ou aquela Missa por que "a banda é boa" ou o "padre é mais animado". Será que é isso que deve nos atrair na liturgia?

Cabe registrar aqui mais algumas das sempre sábias palavras do então Cardeal Ratzinger:

"O silêncio [na liturgia] deve ser um silêncio pleno, mais do que apenas a ausência de palavra e de ação. O que nós esperamos da liturgia é precisamente que ela nos dê tal silêncio positivo - o silêncio que não é apenas uma pausa, cheia de pensamentos e desejos, mas sim o momento de contemplação, que nos ofereça paz interior, que nos deixe respirar e que descubra o essencial que se encontra oculto. Por isso mesmo é impossível 'fazer' simplesmente silêncio, prescrevê-lo como uma outra ação. Não é por acaso que hoje se procuram tantos exercícios de meditação: é o surgimento de uma necessidade humana que não encontra satisfação na forma atual da liturgia" (Introdução ao espírito da liturgia, Joseph Ratzinger, pg. 154, ed. Paulinas).

Por fim, mais do mesmo para fechar:

"Cada vez menos é Deus que se encontra em destaque, cada vez mais importância ganha tudo o que as pessoas aqui reunidas fazem e que em nada se querem submeter a um 'esquema prescrito'." (Introdução ao espírito da liturgia, Joseph Ratzinger, pg. 59, ed. Paulinas).

quarta-feira, 18 de junho de 2008

De joelhos!

Diante de 70 mil pessoas, o papa Bento XVI fez história domingo durante a celebração de uma missa em Brindisi (...) No momento da comunhão, o pontífice restaurou o costume de entregar a hóstia consagrada aos fiéis ajoelhados.

Quando os católicos comemoraram e os modernistas estrebucharam pela eleição de Joseph Ratzinger como sucessor de João Paulo II, sabiam bem o que estavam fazendo!

Depois de liberar a celebração da Missa de São Pio V, o papa Bento XVI trabalha agora na restauração da comunhão de joelhos. Leia a notícia completa!

Apenas ressaltando que, ao contrário do que afirma a notícia, o papa não está exatamente restaurando a comunhão de joelhos porque ela nunca foi abolida. Ainda é a forma ordinária, infelizmente o que era pra ser uma excessão - a comunhão de pé e na mão - virou regra (como outras coisas no pós-concílio...).

Não encontrei a homilia do papa onde ele teria afirmado que vê urgência no retorno da comunhão de joelhoes e na boca. Mas se ele (ainda) não afirmou isso realmente, já tem dado o exemplo na prática! Visto que na Solenidade de Corpus Christi Bento XVI fez o mesmo: pra quem comungou com ele, de joelhos e diretamente na boca! Fotos abaixo.

E podem anotar, o próximo passo é restaurar a posição do altar; incentivando que a Missa seja celebrada "versus Deum" novamente!

Tudo isso faz parte de um dos compromissos principais do pontificado de Bento XVI, interpretar e aplicar corretamente o Concílio Vaticano II (o que inclui uma reforma litúrgica realmente de acordo com o que pediu o Concílio).


Na Missa de Corpus Christi - 22/05/2008:







Na Missa de sua visita pastoral a Brindisi (Itállia) - 14/06/2008:






Na Missa de sua visita pastoral a Santa Maria di Leuca (Itállia) - 15/06/2008:




segunda-feira, 16 de junho de 2008

Diga-me com quem andas...

O senhor Orlando Fedeli, fundador da Associação Cultural Montfort, na ânsia de atacar o inatacável - ou seja, um Concílio legítimo da Igreja Católica - deixa evidente mais uma vez por qual "exército está lutando e pra onde está mirando sua espada" (pra usar expressões caras ao mesmo).

Como costuma fazer em suas análises do Concílio Vaticano II, se utiliza de declarações de hereges modernistas para tentar provar o quão daninho teria sido o referido Concílio para a vida da Igreja.

Enquanto bispos e teólogos de reconhecida ortodoxia defendem o Concílio e lutam por uma interpretação correta do mesmo, isso sem falar nos papas, Orlando Fedeli prefere colher opiniões de modernistas para fundamentar seus ataques à Igreja (basta uma lida atenta do seu site para verificar que ele, de fato, acaba atacando a Igreja e sua hierarquia).

Sobre o ocorrido, remeto-vos a uma lúcida análise feita por Jorge Ferraz em seu blog: "Quando os hereges são seguidos..."

terça-feira, 10 de junho de 2008

Castidade e fidelidade - a melhor forma de combater a AIDS


VATICANO, 30 Mai. 08 / 07:00 pm (ACI).- Em uma mensagem dirigida ao novo Embaixador de Uganda ante a Santa Sé, Nyine S. Bitahwa, o Papa Bento XVI elogiou a política para prevenir a transmissão do HIV / AIDS do país africano que, contrariando as imposições da ONU que exigem promover o sexo livre e o preservativo, obteve o índice mais bem-sucedido de redução da difusão da pandemia mediante a promoção da fidelidade e a abstinência.

No discurso escrito que entregou esta manhã, o Pontífice elogia a Uganda "os frutos nos setores da educação, o desenvolvimento e a sanidade, sobre tudo na luta contra o AIDS, assim como a atenção emprestada aos afetados e a afortunada política de prevenção apoiada na continência e a promoção da fidelidade no matrimônio".

O Papa elogia também a Uganda pela "culminação do esforço para formalizar acordos de paz que põem fim a longos anos de guerra marcados por uma violência cruel e insensata" e auspicia que "todos os refugiados retornem logo a seus lares para reatar uma existência pacífica e produtiva".


Uganda prova na prática que a Igreja Católica - como sempre, diga-se - está correta em rejeitar distribuição massiva de preservativos como forma de combate à transmissão da AIDS.

No fundo, distribuir preservativos é como dizer: "Façam sexo à vontade! Não se respeitem, não respeitem seus esposos, seu matrimônio, nem as pessoas ao seu redor. Façam sexo livremente!"

Não faltam aqueles que afirmam que essa postura da Igreja é loucura, chegam até a afirmar que Ela terá de prestar contas das vidas que se perdem por terem se contaminado com o HIV.

Não percebem que a orientação da Igreja Católica contra o preservativo é consequência de seu ensino sobre a castidade e a fidelidade matrimonial. Sexo só após o casamento. Após o casamento, fidelidade. Simples!

Sem sexo pré-matrimonial, sem HIV (uso de drogas injetáveis, erro em transfusão de sangue, etc., são outros problemas). Fidelidade conjugal, sem HIV. É a totalidade da moral católica sobre o tema que seus críticos não querem ver. Ou fingem não ver...

Além do mais, quem em nada está preocupado com castidade e fidelidade matrimonial, será que terá escrupulos em utilizar preservativos porque a Igreja o proíbe? Se esses realmente atentassem para o que Ela ensina, estariam se preservando para o matrimônio e seriam fiéis quando nele chegassem.

Castidade e fidelidade tem sido a tônica da campanha de combate a AIDS em Uganda. E esse tem sido o país mais bem sucedido na luta contra essa doença!

Que o mundo e a ONU aprendam com este exemplo!

Eis abaixo um cartaz em Uganda:



"Sex can wait, but my future can't - Abstain and avoid HIV/AIDS"


"Sexo pode esperar, meu futuro não pode - Abstenha-se e evite HIV/AIDS"






quinta-feira, 5 de junho de 2008

Pedidos dos filhos

Pedidos dos filhos

Dom Orlando Brandes - Arcebispo de Londrina


Os filhos pedem a seus pais e educadores vinte solicitações.

1. Não tenham medo de ser firmes comigo. Sua firmeza me dá segurança.

2. Não me tratem com excesso de mimo. Nem tudo o que eu peço me convém.

3. Não me corrijam na frente de outras pessoas. Isso me revolta.

4. Não permitam que eu forme maus hábitos. Dependo de vocês para saber o que é certo e o que é errado.

5. Não façam promessas apressadas. Sinto-me mal quando as promessas não são cumpridas.

6. Não me sufoquem com suas preocupações. Eu também preciso aprender com o sofrimento e com os erros.

7. Não sejam falsos comigo. A falsidade faz eu perder a fé em vocês.

8. Não me incomodem com ninharias. Irei fazer-me de surdo.

9. Não dêem a impressão de serem perfeitos, infalíveis. O choque será muito grande quando eu descobrir seus defeitos.

10. Não deixem sem respostas minhas perguntas. Do contrário, deixarei de fazê-las e buscarei informações em outros lugares.

11. Não se sintam humilhados ao ter que pedir desculpas. O perdão me aproxima de vocês.

12. Não digam que minhas preocupações e problemas são tolices. Tentem compreender-me. Ficarei mais sereno.

13. Não esqueçam que estou crescendo e mudando rapidamente. Tentem acertar o passo comigo.

14. Não me comprem presentes. O melhor presente é a presença de vocês. Com vocês sinto-me seguro, forte, amado.

15. Acolham-me desde a fecundação, alimentem-me com aleitamento materno, dêem-me colo, toquem-me porque preciso de tudo isto para crescer saudável e equilibrado.

16. Preciso de um pai forte e amigo, de uma mãe equilibrada e feliz. Seu jeito de ser é que fica marcado em mim. Poderei esquecer suas palavras, não esquecerei seus gestos.

17. Não imponham nem direcionem minha profissão e vocação. Podem aconselhar-me, mostrar-me suas razões, mas deixem-me a liberdade de escolher.

18. Se vocês se amam eu me sinto amado por vocês. Se vocês brigam, não dialogam, não se perdoam, eu me sinto um órfão de pais vivos.

19. Porque vocês foram fracos no bem, eu agora sou forte no mal. Se vocês são pais despreparados eu cresço desequilibrado.

20. Se vocês não me elogiarem, se me castigarem injustamente, se não me ensinarem a rezar, se satisfizerem todos os meus desejos, vocês estragam minha vida.

Os filhos aprendem imitando. Daí a necessidade do casal se querer bem e dar bom exemplo. Dizia um filho aos pais: "peço que vocês me amem quando eu não mereço, porque é aí que eu mais preciso ser amado." Nada disso é fácil. O nascimento dos filhos traz grandes mudanças na família. Os cônjuges esquecem de ser esposos, trocam os papeis, e começam a ser somente pais. Apegar-se aos filhos e esquecero cônjuge é um perigo. O primeiro amor na família é sempre o amor conjugal, depois o amor filial.

Além disso, temos pais agressivos e pais permissivos, mas precisamos de pai e mãe participativos. Os pais apegados aos filhos sofrem demais quando eles devem deixar o lar. Os desequilíbrios dos filhos levam ao desajuste do casal e vice-versa. Os pais conscientes tratam os filhos conforme a idade que eles têm. É preciso saber mudar de marcha. Pais ajustados, filhos equilibrados.

Um filho escreveu para seus pais: "Eu sou forte no mal porque vocês foram fracos no bem. Por isso estou preso". Os pais nunca podem abdicar do diálogo, devemestar abertos em buscar soluções e aceitar ajuda. Ninguém é infalível. Os pais aprendem com os filhos, mas devem sempre colocar limites e apresentar valores. Lares sem disciplina criam filhos folgados e onipotentes que se tornam delinqüentes. É a tirania dos filhos sobre os pais.

Temos hoje a "família filiarcal" que sucedeu à família matriarcal e depois à patriarcal. Filiarcalismo é fazer dos filhos pequenos deuses. Eles não ajudam em nada nos trabalhos da casa, deixam roupas sujas em cada canto, só comem o que querem, dominam os pais que se tornam seus escravos e reféns. Pais permissivos são mais prejudiciais que os autoritários.

Os filhos emitem sintomas que sinalizam a presença de problemas familiares. Quando os pais vão mal os filhos entram em ansiedade. Hoje a grande tentação é resolver as crises com o "divórcio fácil". É preciso crer nas soluções, na reorganização da família. O filho problema pode tornar-se o melhor. A ovelha negra se torna uma benção, quando recorremos a Deus, ao perdão, ao diálogo, à disciplina. Quem olha as soluções não cai nas acomodações. Os heróis se forjam nas carências e crises.

A arte de ser bons pais começa já no útero materno. A preparação para a missão de ser pai e mãe é assunto do namoro e noivado. Pais despreparados, filhos desequilibrados; pais ausentes, filhos delinqüentes; pais permissivos, filhos onipotentes; pais omissos, filhos rebeldes. Carregamos dentro de nós a criança que fomos no passado. Vale a pena investir no casal para que os filhos cresçam sadios, seguros e amorosos. A família é a esperança da sociedade e o futuro do mundo.