terça-feira, 26 de junho de 2007

O Latim - parte II

Continuando a falar sobre o uso do Latim.

No post anterior comentei sobre um bom motivo para aprendermos algumas orações em Latim: é a língua de nossa Mãe! Também listei uma série de citações do Magistério favorável ao uso da língua latina na Missa. Em sua Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, o Papa Bento XVI incentiva que também sejam aprendidas e eventualmente "recitadas em latim as orações mais conhecidas da tradição da Igreja" (nº 62).

Nessa segunda parte cito algumas vantagens ao se usar o Latim. Tais vantagens foram retiradas de um folheto escrito por pe. José Edilson, da Adm. Apostólica São João M. Vianney, e distribuído há alguns anos na Capela Santa Luzia (onde, aliás, diariamente se celebra a Missa segundo o Rito de São Pio V por padres da citada Adm. Apostólica e devidamente autorizadas pelo então Arcebispo de São Paulo Dom Claudio Hummes).

As partes em vermelho são as originais do texto do pe. José Edilson.

É uma língua estável: pelo fato de ser uma língua morta, não está sujeita às evoluções próprias das línguas faladas pelo povo. É excelentíssima, por isso, para mostrar a sublimidade do Santo Sacrifício e, principalmente, para conservar a Fé, que acha na Liturgia sua expressão externa.

Aqui podemos utilizar como exemplo a resposta do povo à saudação final do sacerdote na Missa: 'Graças a Deus!'

No Latim é 'Deo Gratias'. Em português não se distingui se alguém está dando graças à Deus pela Missa que acabou de assistir ou se está desabafando aliviado por finalmente ter terminado a Missa...

'Graças a Deus' assume essas duas possibilidades na língua portuguesa. E aqui, neste caso, não é um problema da tradução, mas culturalmente a citada expressão acabou assumindo esses dois significados.

Talvez para evitar esse tipo de ambiguidade outras duas grandes religiões continuam utilizando uma língua separada e considerada sagrada para o culto: o Judaísmo utiliza o hebraico e o Islamismo o árabe. O fato dessas religiões utilizarem uma língua própria para o culto e que muitas vezes é desconhecida de seus membros, não ganha destaque e nem gera polêmica; mas é só o Papa falar em Missa em Latim que vira manchete de jornal e inúmeros colunistas ficam revoltados com o "atraso" da Igreja...


É uma língua fixa: aperfeiçoada com termos próprios formados pela legislação romana, possui grande clareza. No decorrer da História, somente os hereges se opuseram ao uso do latim no culto: no séc. XIII os cátaros e valdenses; mais tarde os hussitas e os protestantes; seguiram-nos os jansenitas e os católicos racionalistas. A razão disto é que pela mudança no modo de orar, eles infiltram as heresias pois a lei da oração é a lei da fé (lex orandi, lex credenci). O latim é, pois, uma barreira contra as heresias.

De fato, o latim tem uma força semântica muito grande, só equiparada pelo grego.

Por isso afirmou Pio XII: “O uso da Língua Latina é um eficaz antídoto contra todas as corruptelas da pura doutrina.” (Papa Pio XII, Encíclica Mediator Dei, nº 53)

Lex orandi, lex credenci: a maneira como rezamos expressa a fé que temos. É impressionante notar, assim, que a maneira como muitos sacerdotes celebram e zelam pela Missa expressa exatamente a fé que têm...

Sobre isso vejam Sacramentum Caritatis nº 34 à 42; sem esquecer a Ecclesia de Eucharistia nº 52: "O sacerdote, que celebra fielmente a Missa segundo as normas litúrgicas, e a comunidade, que às mesmas adere, demonstram de modo silencioso mas expressivo o seu amor à Igreja".


Língua misteriosa e santa: o latim, mediante seu caráter decoroso, suscita um sentido profundo no mistério eucarístico.

Eis algo que a liturgia em vernáculo e versus populum perdeu completamente: o sentido de mistério.

E o desejo de fazer a liturgia compreensível para o povo mais simples levou muitos sacerdotes e equipes de liturgia a rebaixá-la demais... quando o oposto deveria ter sido priorizado! O povo deve ser instruído, catequizado, 'elevado' para melhor conhecer os Santos Mistérios! E não o contrário, rebaixando e empobrecendo a Missa até poder ser compreendido pelo povo.

"Num mundo secularizado, em vez de procurar elevar os corações para a grandeza do Senhor, procurou-se muito mais, eu acredito, rebaixar os mistérios divinos a um nível banal" (Dom Malcolm Ranjith - entrevista citada no próximo item; não deixem de ler!).


Língua unitiva: na diversidade de povos, o Latim é grande sinal de unidade na Igreja. Todos podem rezar em uma só voz com a Cátedra de Pedro. Embora haja no Oriente línguas de culto, o Latim é a maior expressão da unidade no tempo e no espaço. O abandono do Latim após o Concílio Vaticano II abriu as portas para inúmeras divisões na Igreja no campo litúrgico com todas as suas consequências. Pode-se dizer, sem exagero, que o uso do vernáculo facilitou a transformação da Liturgia, em muitos lugares, numa colcha de retalhos ao sabor da livre inspiração de cada um.

Importante frisar que esse completo abandono do Latim se deu não por culpa direta do Concílio Vaticano II (e nem poderia ser diferente), mas por uma péssima e maldosa interpretação do mesmo, já que o Concílio mesmo não mandou abolir o Latim da liturgia!

Ele trata da Língua latina em dois pontos:

  1. “Deve conservar-se o uso do latim nos ritos latinos, salvo o direito particular.” (Constituição Sacrosanctum Concilium, nº 36, § 1)

  2. “Providencie-se que os fiéis possam juntamente rezar ou cantar em Língua Latina as partes do Ordinário que lhes competem.” (Constituição Sacrosanctum Concilium, nº 54)

Ou seja, no primeiro ponto o Concílio diz que o uso do vernáculo é um "direito particular", ou seja, deve ser usado como medida pastoral especial a ser decidida pelo bispo diocesano. O uso do vernáculo é a excessão que virou a regra! Infelizmente...

O segundo ponto demonstra que realmente não era intenção do Concílio abolir o Latim, pois pede que os fiéis sejam instruídos para saber rezar e cantar as partes que lhe competem nessa língua!

Por isso afirma o Código de Direito Canônico “Faça-se a celebração eucarística em língua latina ou outra língua, contanto que os textos litúrgicos tenham sido legitimamente aprovados.” (Cân. 928)

Sobre esses temas, tenhamos em mente que Nosso Senhor prometeu Sua assistência à Igreja e Ele não deixa de suscitar verdadeiros profetas que amam a Verdade e não temem anunciá-la! (vide, por exemplo, a entrevista de Dom Malcolm Ranjith ou o prefácio escrito pelo então Cardeal Ratzinger para o livro de pe. Uwe Michael Lang, além de um recente artigo do pe. Nicola Brux; exemplos não faltam!).


Mas voltemos aos argumentos de pe. José Edilson para o uso do Latim...


Mantém a pureza da liturgia: o Latim impede que elementos estranhos ao culto possam ser usados na Liturgia. Quando vemos hoje Missas celebradas com danças sensuais, pagãs, ao ritmo de Rock, usando termos chulos, aos som de atabaques e coisas semelhantes, onde o culto a Deus é substituido pelo culto do homem, é porque para muitos já se perdeu o sentido do sagrado, do objeto da Liturgia, que se torna propriedade particular do celebrante ou da comunidade, e não patrimônio da Igreja.

Sobre essa perda do sentido do sagrado, muito se deve às invenções de "animadores" da liturgia que a cada domingo tentam inventar maneiras novas para o povo participar mais "ativamente" da celebração. Nada mais ilusório essa arrogante pretensão de ensinar a Igreja como deve celebrar! O máximo que conseguem é fazer com que o povo perca o sentido de mistério sagrado que envolve a liturgia...

"Desenvolveu-se, de fato, a impressão de que a liturgia seja 'feita', que não seja algo cuja existência nos precede, algo que nos é 'dado', mas algo que depende das nossas decisões. Disto se segue, como consequência, que não se reconheça essa capacidade de decisão só aos especialistas ou a uma autoridade central, mas que, definitivamente, qualquer 'comunidade' queira se dar uma liturgia própria. Mas, quando a liturgia é algo que qualquer um faz por si mesmo, então desaparece aquela que é a sua verdadeira qualidade: o encontro com o mistério, que não é um produto nosso, mas a nossa origem e a fonte da nossa vida". (Cardeal Joseph Ratzinger, citado por Andrea Tornielli em "Bento XVI - O Guardião da Fé", pag. 208).


É a língua tradicional mais usada na Igreja: o Latim nos mantém em contato com todo o passado da Igreja, com a beleza do canto Gregoriano, com sua arte, cultura e nos leva à visão da Igreja como um todo historicamente ininterrupto.


São esses seis os pontos vantajosos listados por pe. Edilson para que se utilize o Latim.


Pretendo voltar ainda à esse tema.

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