quinta-feira, 4 de outubro de 2007

São Francisco de Assis!


Hoje é dia de São Francisco de Assis!


São Francisco foi o primeiro santo que tive "contato", que li a biografia, ao retornar à Igreja. Ele é, na minha opinião, o maior exemplo de seguimento de Nosso Senhor que já existiu!


Segue uma pequena biografia de São Francisco.


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São Francisco nasceu em 1181/1182 em Assis na Itália, foi batizado com o nome de Giovanni di Pietri, mas seu nome foi mudado pouco tempo depois para Francisco, pois seu pai Petri di Bernardone era comerciante e viajava muito a França, mudou o nome do filho em homenagem ao local que fazia bons negócios.

Em 1198 acontece um conflito em Assis, entre a nobreza e os comerciantes. Os nobres se refugiam em Perusa uma pequena cidade próxima de Assis, onde São Francisco ficou preso por um ano até o ano de 1204. Em Perusa também estava a família de Clara.

Ao voltar para Assis, São Francisco doente começa sua conversão gradual, se dedica a dar esmolas e oferece até suas roupas aos pobres, tem visões e começa a desprezar o dinheiro e as coisas mundanas. Até que ele se encontra com um leproso, lhe dá esmola e um beijo, e este acontecimento marcou tanto a vida dele que, dos muitos fatos ocorridos em sua vida, este foi o primeiro que entrou em seu Testamento, "pois o que antes era amargo se converteu em doçura da alma e do corpo".

Outros encontros afirmaram ainda mais a vocação de São Francisco, nas ruínas da da igraja São Damião recebeu do crucificado o mandato de restaurar a Igreja. Obediente ao mandato, São Francisco pôs-se logo a trabalhar. Reconstruiu três pequenas igrejas abandonadas: a de São Damião, a de Santa Maria dos Anjos e a de São Pedro.

Seu pai, envergonhado do novo gênero de vida adotado por Francisco, queixou-se ao bispo de Assis da prodigalidade do filho e, diante do prelado, pediu a Francisco que lhe devolvesse o dinheiro gasto com os pobres. A resposta foi a renúncia à vultosa herança: despindo, ali, suas vestes, Francisco exclamou: "... doravante não direi mais pai Bernardone, mas Pai nosso que estás no céu..."

A partir desse momento passa a viver na pobreza, e inicia a ordem franciscana, cresce o número de companheiros, 1209 já são 12. Cria uma regra muito breve e singela, que o papa Inocêncio III aprova em 1210, e cujas diretrizes principais eram pobreza e humildade, surge assim a Fraternidade dos Irmãos Menores, a Primeira Ordem.

No Domingo de Ramos de 1212, uma nobre senhora, chamada Clara de Favarone, foi procurar Francisco para abraçar a vida de pobreza. Alguns dias depois, Inês, sua irmã, segue-lhe o caminho. Surge a Fraternidade das Pobres Damas, a Segunda Ordem. Aqueles que eram casados ou tinham suas ocupações no mundo e não podiam ser frades ou irmãs religiosas, mas queriam seguir os ideais de Francisco, não ficaram na mão: por volta de 1220, Francisco deu início à Ordem Terceira Secular para homens e mulheres, casados ou não, que continuavam em suas atividades na sociedade, vivendo o Evangelho.

A Ordem Francisca cresceu com o passar dos anos. Em 1219 houve uma grande expansão para a Alemanha, Hungria, Espanha, Marrocos e França. Neste mesmo ano São Francisco vai em missão para o Oriente. Durante sua ausência, vigários modificam algumas regras da Ordem e no mesmo ano de 1219 São Francisco se demite da direção da Ordem.

Com o crescimento da Ordem, quase 5.000 frades em 1221, uma nova regra foi escrita por São Francisco em 29 de novembro de 1223 que foi aprovada pelo papa Honório. É a que vigora até hoje.

Em 1224 no dia 17 de setembro São Francisco recebeu as chagas de Jesus crucificado em seu próprio corpo, este fato ocorreu no Monte Alverne, um dos eremitérios dos frades.

Os últimos escritos de São Francisco são entre 1225 e 1226, dentre eles o Cântico das Criaturas e o Testamento. Nestes mesmos dois anos, Francisco vai a vários lugares da Itália para tratar de suas vistas. Passa por diversas cirurgias. Morre aos 03 de outubro de 1226, num sábado.

Morreu nu aquele que começou a vida de conversão nu na praça de Assis diante do bispo, do pai e amigos. Morreu ouvindo o Evangelho de João, onde se narra a Páscoa do Senhor, aquele que recebeu os primeiros companheiros após ouvir o Evangelho do envio dos apóstolos. Foi sepultado no dia 04 de outubro de 1226, Domingo, na Igreja de São Jorge, na cidade de Assis.

São Francisco de Assis foi canonizado em 1228 por Gregório IX e seu dia é comemorado em 04 de outubro.

Em 25 de maio de 1230 os ossos de São Francisco foram levados da Igreja de São Jorge para a nova Basílica construída para ele, a Basílica de São Francisco, hoje aos cuidados dos Frades Menores Conventuais.

domingo, 2 de setembro de 2007

Grito dos Excluídos

Dia 07 de setembro acontece o "Grito dos Excluídos". A manifestação é projeto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como consta no número 129 do Projeto Rumo ao Novo Milênio: “O Grito dos Excluídos será celebrado anualmente, em nível nacional, no dia 7 de setembro, retomando preferencialmente o tema da Campanha da Fraternidade” (PRNM, CNBB, pág. 44).

Visitando o site do "Grito dos Excluídos", notamos que desse evento apoiado pelos Bispos Brasileiros (não todos obviamente, há heróicas excessões) também participam grupos que de católicos não tem absolutamente nada. Podemos citar o MST (organização comunista especializada em invadir propriedades alheias), a Marcha Mundial das Mulheres (grupo que apóia o lesbianismo e o aborto), a ONG feminista SOF, e o site Adital (site premiado pela CNBB que defende teses comunistas já condenadas pela Igreja e tem entre seus principais articulistas Leonardo Boff, o ex-frei Betto e o monge-de-camdoblé Marcelo Barros).

É um absurdo que a CNBB se una a tais grupos nesse evento que pode ser qualquer coisa, menos católico.

Mas, o "Grito dos Excluídos" é definido em seu site como "uma grande manifestação popular para denunciar todas as situações de exclusão e assinalar as possíveis saídas e alternativas".

E se é para "denunciar todas as situações de exclusão", creio que muitos outros excluídos - excluídos inclusive pela CNBB e pelo "Grito" - poderiam e deveriam dar seu grito...

  • Nosso Senhor Jesus Cristo, excluído do "credo dos excluídos"(* );
  • os católicos excluídos do conhecimento da Verdade, que vagam perdidos a buscá-la, mas sem encontrá-la na maioria das paróquias, pois estão contaminadas pelo relativismo da Teologia da Libertação;
  • os inocentes criminosamente excluídos precocemente do ventre materno e que não terão lugar nessa manifestação, pois organizações abortistas tomaram parte do "Grito";
  • os católicos excluídos de uma boa e santa confissão, pois um grande número de sacerdotes agem mais como psicólogos do que como administradores do Sangue de Cristo, parecem inclusive nem crer mais no sacramento que ministram (particularmente tenho um triste histórico de confissões completamente inválidas por defeito de forma, ou seja, sacerdotes que não dizem o mínimo necessário para a validade do sacramento: "Eu te absolvo dos teus pecados");
  • os católicos excluídos de uma celebração digna da Santa Missa conforme o Missal promulgado pelo Papa Paulo VI, pois é uma missão quase impossível encontrarmos uma Missa celebrada dignamente e conforme prescreve as rubricas do referido Missal;
  • os católicos excluídos da possibilidade de ter acesso a uma Santa Missa celebrada em Latim, conforme o expresso desejo do Concílio Vaticano II, de João Paulo II e de Bento XVI;
  • os católicos excluídos da celebração da Santa Missa conforme o Missal promulgado pelo papa São Pio V, cuja celebração foi completamente liberada por Bento XVI através do Motu Proprio Summorum Pontificum, infelizmente no Brasil esse documento vem sendo silenciado e as vezes até ironizado por boa parte do clero;
  • os católicos excluídos de um conhecimento claro da Fé Católica, pois a catequese de crianças, jovens e adultos está completamente infestada de modernismo e Teologia da Libertação;
  • os católicos excluídos de uma Quaresma piedosa e permeada de meditações sobre a Paixão de Nosso Senhor, pois no Brasil é mais importante tratarmos de amenidades terrenas do que do Sacrifício do Calvário, é mais importante preocupar-se com a devastação das Amazônia do que com a devastação que as almas sofrem pela falta da Verdade, pela falta de Cristo;
  • os católicos excluídos de uma vida paroquial normal, pois precisam se deslocar por grandes distâncias para ter uma boa confissão e/ou uma boa Missa;
  • as famílias tradicionais praticamente excluídas de nossa sociedade incentivadora da promiscuidade, do homossexualismo e do divórcio;
  • ...

Quem desejar, comente, deixe seu grito que incluirei na lista.


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(* ) Credo sugerido pela CNBB para as celebrações do "Grito dos Excluídos":

8. Proclamação de Fé e Esperança

Cremos em Deus, coração materno, criador do Céu e da Terra.
Cremos na força do mutirão e na força profética do povo organizado
Cremos na força dos pequenos que inventam e recriam, pois nosso Deus derruba do trono os poderosos.
Cremos num “trem de esperanças” quando o povo grita nas ruas.
Cremos no grito das mulheres exigindo respeito e dignidade.
Cremos no grito da criança, do adolescentes dos jovens.
Cremos no pão partilhado, nas alternativas de economia popular solidária,
Cremos no povo que resgata suas raízes. Por isso, cremos na mudança que vem dos pequenos e excluídos.
Creio em todos e em todas nós aqui presentes.
Cremos na comunhão fraterna entre Credos e Igrejas, acreditando que o ecumenismo vem na prática.
Cremos que as lutas de nossas comunidades e organizações são sementes do presente para germinar árvores de vida em abundância, e alegria no rosto de nossa gente!

sábado, 18 de agosto de 2007

Perguntar não ofende, mas pode converter

Há pouco tempo eu terminei de ler o excelente livro "Todos os caminhos vão dar a Roma", escrito por Scott Hahn e sua esposa Kimberley Hahn. Os autores são estudiosos da bíblia e tinham posições de destaque na Igreja Presbiteriana dos EUA. Suas conversões são fruto de estudos sobre a Bíblia e os Padres da Igreja. Scott se converteu primeiro, causando uma grande decepção à esposa; mas ela, algum tempo depois, também acabou se rendendo à clareza da Fé Verdadeira e se converteu. A emocionante e edificante história desse casal pode ser conhecida no livro citado acima, leitura que eu recomendo vivamente.

Algumas das objeções que os protestantes fazem a Fé Católica são refutadas por Scott Hahn. Especialmente interessante é o momento em que ele começa a questionar a doutrina da "Sola Scriptura" (= somente a Bíblia). Hahn, desesperado por não conseguir encontrar fundamentos para essa doutrina (ponto chave de todo o protestantismo), pergunta a alguns de seus antigos professores e amigos: Qual é o fundamento da verdade?

Resposta unânime: A Bíblia, claro!

Ao que Hahn responde: Então por que São Paulo afirma à Timóteo que a Igreja é a coluna e o sustentáculo da verdade?

Não obteve respostas satisfatórias...

Gostei da idéia e fiz o teste: cheguei em um antigo colega de trabalho, que é metodista, e fiz a mesma pergunta... A resposta não poderia ser outra: A Bíblia! Respondi o mesmo que Scott Hahn, citando I Timóteo 3,15. Ele ainda não me trouxe uma resposta...

Os protestantes afirmam que a Bíblia é a única fonte de fé e moral (Sola Sciptura). Por outro lado, nós católicos cremos que nossa fé se fundamenta num tripé formado pela Bíblia, Tradição e Magistério.

Fica a dica para o caso de um debate com protestantes, ao invés de nos desdobrarmos para fazê-los entender o uso de imagens, intercessão dos santos, Nossa Senhora, etc., pergunte: Qual é o fundamento da verdade?. Depois, ele que prove com a própria Bíblia, a doutrina herética da Sola Scriptura.

Nesse sentido, recomendo a leitura do artigo "Cinco perguntas a que nenhum protestante consegue responder", de Carlos Ramalhete.

Parece até um paradoxo, mas justamente a Bíblia é o ponto fraco dos protestantes!

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Liturgia e Vida

O tempo anda um pouco curto, por isso essas duas semanas sem postar nada aqui no blog. Também gostaria de lembrar que esse blog não trata exclusivamente de liturgia, mas esse tema tem predominado pela publicação do Motu Proprio Summorum Pontificum.

Por falar nesse documento, a Agência Fides, da Congregação para Evangelização dos Povos, publica um interessante dossiê escrito pelos padres Nicola Bux e Salvatore Vitiello. O estudo demonstra que, de fato, a celebração da Missa de São Pio V nunca foi abolida.

Uma versão em português pode ser lida no próprio site da Agência Fides.

Aproveito também para recomendar novamente a leitura de um artigo escrito pelos mesmos padres autores desse dossiê, o artigo pode ser lido aqui.



Semana passada em um discurso na inauguração da 16ª Semana Nacional de Liturgia, o Cardeal Cipriani afirmou que o Papa Bento XVI tem uma firme convicção de que a liturgia "deve recuperar a beleza de sua expressão".

De fato, em muitos lugares atualmente a Liturgia Católica é celebrada de forma pobre e indigna. E quando digo "pobre", obviamente que não me refiro à riqueza material de paramentos e vasos sagrados; um sacerdote não precisa utilizar paramentos feitos com fios de ouro para estar belo e digno de celebrar os Santos Mistérios. Realmente a beleza da Santa Missa precisa ser recuperada, pois foi covardemente roubada por padres modernistas que não tratam dignamente o Corpo de Cristo!


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Como eu disse acima, esse blog não é exclusivamente sobre liturgia.

Nesse sentido, gostaria de registrar aqui o caso de Guadalupe Lovera, uma menina que foi salva de ser abortada em uma clínica nos Estados Unidos. Ela, hoje com 12 anos, escreveu uma carta e gravou um vídeo externando sua gratidão aos padres da Priests for Life (Padres para a Vida). Essa associação luta contra o aborto nos Estados Unidos e conseguiu, já na clínica, a convencer a mãe de Guadalupe a não abortar!

A notícia completa, a carta e o vídeo podem ser vistos no site da Agência de notícias ACIdigital.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Versus Deum per Iesum Christum


Versus Deum per Iesum Christum


Publico abaixo artigo de Rafael Vitola Brodbeck tratando da posição do sacerdote durante a celebração da Santa Missa.

Interessante a referência que o articulista faz ao "clericalismo" existente na Missa celebrada versus populum. Essa referência também foi feita pelo então Cardeal Jospeh Ratzinger em seu livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", afirmando que o destaque que se dá ao sacerdote quando celebra voltado para o povo o torna o ponto principal de toda a Missa: "[a mudança na posição do sacerdote e do altar] levou a uma clericalização jamais vista. O sacerdote - ou melhor, o agora chamado presidente da celebração - torna-se o ponto de referência do todo. Tudo depende dele. É necessário vê-lo, participar na sua ação, responder-lhe; tudo assenta na sua criatividade. (...) Cada vez menos é Deus que se encontra em destaque, cada vez mais importância ganha tudo o que as pessoas aqui reunidas fazem e que em nada se querem submeter a um 'esquema prescrito'. O sacerdote que se volta para a comunidade forma, juntamente com ela, um círculo fechado em si. A sua forma deixou de ser aberta para cima e para frente; ela encerra-se em si própria." (Joseph Ratzinger, Introdução ao Espírito da Liturgia - Ed. Paulinas, pag 59 - destaque meu)

Particularmente sou um entusiasta da Missa celebrada versus Deum, pois fica muito mais forte o sinal de que ocorre algo sagrado, um sacrifício. Como explica Rafael em seu artigo, o sacerdote volta-se para Deus para representar o povo nas orações e no oferecimento do sacrifício do Corpo e Sangue de Cristo; e volta-se para o povo quando proclama o Evagelho e faz a homilia, representando Deus que ensina seus filhos.


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Missa de frente para Deus - versus Deum - também no rito novo?

Por Dr. Rafael Vitola Brodbeck


Muitos pensam que o Missal de 1970, o Novus Ordo, instituindo a nova forma de celebrar a Missa romana, modificou a direção a qual deve estar voltado o sacerdote celebrante. Ledo engano, a posição do ofertante foi mantida a mesma. É o que informam recentes documentos da Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, bem como o próprio Papa Bento XVI, à época Cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em entrevista por ocasião do lançamento de seu livro "Introdução ao Espírito da Liturgia". Também das próprias rubricas do Missal Romano de Paulo VI encontramos as informações que confirmam tal ensino: o sacerdote deve, segundo tais textos, durante a Liturgia Eucarística, “voltar-se para o povo” durante alguns atos; isto significa que, se deve voltar-se ao povo, é porque antes estava voltado ad Orientem. “Estes avisos que em certos momentos o sacerdote esteja ‘voltado para o povo’ seriam supérfluos, se o sacerdote durante toda a celebração ficasse atrás do altar e frente ao povo.” (RUDROFF, Pe. Francisco. Santa Missa, Mistério de nossa Fé. 1996, Serviço de Animação Eucarística Mariana, Anápolis, com apresentação de Dom Manoel Pestana Filho, Bispo Diocesano de Anápolis, p. 110, nota 37; cf. ELLIOTT, Mons. Peter. Cerimonies of the Modern Roman Rite, 1995, Ignatius Press, San Francisco, p. 23)

Isso, aliás, não é nenhuma surpresa, uma vez que nunca a posição ad Orientem foi expressamente proibida por algum decreto, nem esse foi o desejo dos Padres do Concílio Vaticano II, autor da reforma litúrgica. Outrossim, essa é a forma histórica de oferecimento da Missa, observada inclusive pelos ritos orientais.

Mesmo assim, ainda que a norma seja a manutenção da direção do sacerdote ad Orientem, também conhecida como versus Deum foi permitida pela reforma a posição versus populum, i.e., voltado para o povo, atrás do altar, forma, aliás, que se disseminou mundialmente, tornando-se bastante popular, por força da Instrução Geral do Missal Romano.

Uma nota publicada, em 1993, pela Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos , em seu boletim Notitiae, reafirmou o valor de ambas as opções, celebração versus populum ou versus Deum, de modo que quaisquer dúvidas devem ser dissipadas.

O motivo da celebração versus Deum, ad Orientem, é principalmente o reforço do caráter do sacerdote como sendo o próprio Cristo, seu sacerdócio unido, pela Ordem, ao de Nosso Senhor e Salvador. Assim, “de costas para o povo”, o padre está, na verdade, à sua frente, como líder, como aquele que, em nome da humanidade, mostra-se diante de Deus, e, agindo Cristo por Ele, oferece um sacrifício. Virando-se para os fiéis nos momentos oportunos, é o representante de Deus que nos dá a bênção. E, desse modo, por ser Cristo Deus e Homem ao mesmo tempo, o padre, se é Seu ministro, age ora representando a humanidade ora a divindade, e a Única Pessoa de Jesus, em Suas duas naturezas, mediante o sacerdócio dos que Lhe são especialmente consagrados pelo sacramento da Ordem, oferece Seu sacrifício por nossos pecados.

“(...) a imolação incruenta, por meio da qual, depois de pronunciadas as palavras da Consagração, Jesus Cristo torna-se presente sobre o altar no estado de Vítima, é levada a cabo somente pelo sacerdote, enquanto representante da Pessoa de Cristo, e não enquanto representante da pessoa dos fiéis.” (Sua Santidade, o Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei)

Além do quê, na Missa, mesmo versus populum, sempre estamos “de costas” uns para os outros. Que mal há no padre também ficar?

Mais ainda, ele não está simplesmente dando as costas ao povo, mas virando-se, junto com ele, para a mesma direção. O sacerdote, na Missa versus Deum, posiciona-se exatamente com o restante dos fiéis: todos miram o mesmo alvo, todos olham para o mesmo lugar, todos estão alinhados, como um verdadeiro povo, à frente do qual está o sacerdote, seu líder. Interessante é observar que os setores liberais e progressistas, defendendo a exclusividade da Missa versus populum, acabam criando um clericalismo que eles mesmos criticam, opondo sacerdote e fiéis uns aos outros.

Além disso, por óbvio centra a atenção do povo no sacerdote e a atenção do sacerdote no povo, ao invés de ambos centrarem-se em Deus. O culto versus populum acaba, na prática, favorecendo o antropocentrismo. Evidentemente, nem todos os que celebram versus populum assim o fazem, pois é perfeitamente possível a Missa externamente voltada para o povo e, ao mesmo tempo, espiritualmente centrada em Deus. “Quando o sacerdote celebra versus populum, sua orientação espiritual deveria ser sempre versus Deum per Iesum Christum [para Deus, por meio de Jesus Cristo].” (Cardeal Joseph Ratzinger, A introdução do decano do Sacro Colégio ao livro de Uwe Michael Lang, in 30 Dias, disponível em http://www.30giorni.it/br/articolo.asp?id=3510) Entretanto, ainda que a versus populum não seja, em si, antropocêntrica ou negadora da absoluta centralidade de Cristo na Eucaristia, não há como negar que a celebração versus Deum favorece, pela posição do sacerdote, a centralização da Missa em Deus.

Sem dúvida que em qualquer posição, o padre olha para Deus. Mas a posição versus Deum é mais simbólica nesse sentido. Até porque, por tal argumento, deveríamos, então, em vez de olhar para o altar, olharmos todos uns para os outros. O padre não fica "de costas, propriamente, mas "olhando na mesma direção que nós".

Posição esta que é tradicional não só no rito romano (seja o tradicional, seja o novo - apesar de, nesta última forma, não ser tão comum), como nos ritos orientais (e mesmo nos demais ritos latinos).

“Sobre a orientação do altar para o povo, não há sequer uma palavra no texto conciliar. Ela é mencionada em instruções pós-conciliares. A mais importante delas é a Institutio generalis Missalis Romani, a Introdução Geral ao novo Missal Romano, de 1969, onde, no número 262, se lê: “O altar maior deve ser construído separado da parede, de modo a que se possa facilmente andar ao seu redor e celebrar, nele, olhando na direção do povo [versus populum]”. A introdução à nova edição do Missal Romano, de 2002, retomou esse texto à letra, mas, no final, acrescentou o seguinte: “Isso é desejável sempre que possível”. Esse acréscimo foi lido por muitos como um enrijecimento do texto de 1969, no sentido de que agora haveria uma obrigação geral de construir - “sempre que possível” - os altares voltados para o povo. Essa interpretação, porém, já havia sido repelida pela Congregação para o Culto Divino, que tem competência sobre a questão, em 25 de setembro de 2000, quando explicou que a palavra “expedit” [é desejável] não exprime uma obrigação (...).” (Ratzinger, op. cit.)

“Por último, penso que se o sacerdote rezasse, em algumas ocasiões, a Liturgia Eucarística versus Deum – algo perfeitamente possível segundo as normas atuais –, isso também ajudaria a perceber qual é a orientação espiritual da Liturgia – em direção a Deus, o que não significa nenhum desprezo do Povo. Aliás, alguém diz para a pessoa do banco da frente: ‘você está de costas para mim’?; ou que os noivos, no sacramento do Matrimônio, estão de ‘costas para o povo’?” (BELLO, Joathas, Algumas reflexões sobre a liturgia, disponível em http://ictys.blogspot.com/2005/10/algumas-reflexes-sobre-liturgia.html)

Em resumo, no Novus Ordo Missae, na forma de rito romano promulgada por Paulo VI, em uso na Igreja Ocidental desde então, pode o sacerdote, sem problema algum nem oposição dos superiores ou dos Ordinários, celebrar "de costas aos fiéis", na posição versus Deum, tradicional, própria, e muito mais rica dos pontos-de-vista teológico, histórico e mesmo espiritual. Longe de afastar os fiéis, essa prática só os faz crescer ainda mais na compreensão do mistério da Cruz, tornado presente em cada Santa Missa. Tomara essa posição do sacerdote seja revalorizada, para que o antropocentrismo dê lugar a quem de direito, ainda mais na Missa, Cristo Rei, que no altar, invisível e incruentamente, se imola ao Pai por nós. Mais elevados espiritualmente, melhores cristãos sairão os fiéis de uma Missa em que se observe até mesmo esse aparente detalhe da posição do celebrante: embora, substancialmente, a Missa seja a mesma, tal elemento acidental muito favorece a que tenhamos a correta apreensão da idéia de sacrifício, além de acrescentar à sacralidade do rito e à piedade de todos os que dela tomam parte, transmitindo a riqueza multissecular da Santa Igreja Católica.

sábado, 14 de julho de 2007

Extra Ecclesiam nullus omnio salvatur

Como sempre acontece quando a Igreja diz a verdade, tem gerado uma enorme polêmica a publicação do documento "Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja" , pela Congregação para a Doutrina da Fé.

O pior é que muitas vezes a polêmica acontece mais dentro da Igreja do que fora... Alguns, tanto jornalistas quanto católicos mal formados, dizem: "na contra-mão do Concílio Vaticano II, Papa afirma que a Igreja Católica é a única verdadeira". Coisa de quem não se deu ao trabalho de ler o documento, ou teria notado que ele é quase inteiramente composto por textos do Concílio.

A bem da verdade esse documento não traz nada de novo, apenas dá uma interpretação ortodoxa para alguns textos ambíguos do Concílio Vaticano II. E não podemos esquecer que isso já havia sido feito no ano 2000 na Declaração "Dominus Iesus" (documento belíssimo e que merece um estudo atento por parte de todo católico)

Desde o seu primeiro pronunciamento como Papa, Bento XVI tem afirmado que um de seus compromissos é dar uma correta interpretação para o Concílio Vaticano II, interpretação de acordo com a bi-milenar Tradição da Igreja.

O Papa denunciou num discurso à Cúria no dia 22/12/2005 o que chamou de "hermenêutica da descontinuidade e da ruptura", ou seja, uma maneira de interpretar o Concílio que rompe com todo o passado da Igreja. Essa hermenêutica leva, como também disse o Papa, a estabelecer uma divisão entre Igreja pré-conciliar e Igreja pós-conciliar, como se com Concílio Vaticano II tivesse nascido uma "Nova Igreja".

Por outro lado, existe também o que o Papa chamou de "hermenêutica da continuidade e da reforma", que busca a autêntica renovação e aplicação das diretrizes conciliares.

Quem viveu ou estuda os últimos 40 anos de história da Igreja sabe que o que predominou entre essas duas hermenêuticas foi a da descontinuidade.

É reconhecido por qualquer pessoa que estude o tema que o Concílio Vaticano II se expressou em seus textos de forma bastante ambígua. Exemplo disso é a afirmação da Lumen Gentium que "a Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica", sendo que desde os tempos primitivos foi ensinado que a "Igreja de Cristo é a Igreja Católica". Prova da ambiguidade do termo é que pela segunda vez a Congregação para a Doutrina da Fé está se manifestando a respeito disso, dando a correta interpretação.

A questão da "liberdade religiosa" manifestada pelo Concílio também de forma ambígua através da Declaração "Dignitatis Humanae" foi explicada pelo papa no discurso acima citado.

A Reforma Litúrgica, igualmente levada a cabo segundo essa "hermenêutica da descontinuidade", também ganha mais relevo agora com a publicação do Motu Proprio "Summorum Pontificum". Aliás esse documento só será devidamente compreendido se se tiver em mente esse desejo de Bento XVI de aplicar corretamente as diretrizes do Concílio Vaticano II. No caso do Motu Proprio, isso ficou evidente quando ele diz que deseja que os dois Missais enriqueçam-se mutuamente. É a reforma da reforma litúrgica (o pano de fundo desse documento) tomando corpo! Uma reforma verdadeiramente fiel ao Concílio Vaticano II e sem ruptura com a Tradição!

Creio que outras ações do Santo Padre para dar uma correta interpretação do Concílio virão à público, pois esse é o programa principal de seu pontificado e a maior necessidade da Igreja atualmente. Apontando para esse caminho, no ano passado foi criado o "Instituto do Bom Pastor", que têm em seu estatuto aprovado pelo Papa a missão de:
  1. celebrar exclusivamente a Missa de São Pio V;
  2. abir paróquias tradicionais cuja vida litúrgica seja toda regida pelo Missal de São Pio V (batismo, casamentos, etc.)
  3. sob a orientação do Papa, realizar um exame crítico para uma autêntica interpretação do Concílio Vaticano II.

Eis o pontificado de Bento XVI!

Viva o Papa!

sábado, 7 de julho de 2007

"Summorum Pontificum" publicado!




Foi publicado o tão aguardado, desejado e comentado Motu Proprio "Summorum Pontificum", dando liberdade de celebração para a Missa conforme o Rito de São Pio V (que era celebrado na Igreja antes da reforma litúrgica de 1969).

É importante deixar claro que o Papa concedeu indulto à Missa de São Pio V, não a "Missa em Latim" como a imprensa costuma dizer. Basta lembrar que a Missa Nova (de Paulo VI) também é, ordinariamente, em Latim. O uso do vernáculo é uma concessão da Igreja. Assim como a posição do sacerdote "versus Deum", que também é permitida na Missa Nova. O latim e a posição do sacerdote não são as características principais que diferenciam os dois ritos.

Até a hora que que postei esse texto, não existia uma versão do Motu Proprio em português, mas uma versão em espanhol já pode ser lida aqui. (update em 08/07/07: versão em portugûes da ACI Digital) É muito importante também ler a Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio, essa com versão em português aqui. Nessa Carta o Papa esclarece alguns pontos importantes e deixa claro que esse indulto que ele concede à Missa de São Pio V não compromete a autoridade do Concílio Vaticano II.

Assim que puder escrevo algo mais completo sobre esse documento, um marco no pontificado de Bento XVI.

Por hora, destaco alguns pontos:

1. O Missal promulgado pelo Papa Paulo VI se mantêm como a forma ordinária de celebração litúrgica da Igreja Católica. O Missal promulgado pelo Papa São Pio V será a forma extraordinária. Assim, trata-se do mesmo "Rito Romano", um na forma ordinária (comum) e outro na forma extraordinária.

2. O Missal Antigo nunca foi abolido! E o Papa Bento XVI diz que é plenamente lícito celebrá-lo.

3. Sem a presença do povo, é lícito a qualquer sacerdote celebrar o Rito Antigo e sem necessidade de pedir permissão ao bispo diocesano. Aos fieis que desejem e solicitem ao sacerdote, podem tomar parte dessa celebração (tornando-se uma celebração com povo, claro). Assim, qualquer sacerdote, por piedade pessoal, pode passar a celebrar a Missa Tridentina privadamente; e alguns fieis felizardos podem tomar parte dela!

4. Nas paróquias que existam um grupo estável de fiéis que desejem a Missa Tridentina devem solicitar ao pároco, esse por sua vez deve acolher de bom grado tal solicitação.

5. Se o pároco não atender o pedidos desse grupo de fiéis, isso seja levado ao bispo. O Papa pede que os bispos procurem satisfazer o desejo dos fiéis, caso não seja possível por algum motivo o bispo deve solicitar ajuda à Comissão Ecclesia Dei (comissão fundada por João Paulo II na década de 80 para cuidar justamente disso).

6. As leituras serão em vernáculo.

7. Os sacramentos também podem ser celebrados de acordo com os Ritos prescritos no Missal de São Pio V.

8. O bispo pode criar uma paróquia onde toda a vida litúrgica se dê conforme os Ritos Antigos.

9. Tudo isso entra em vigor a partir de 14 de setembro.


Para quem quiser conhecer, o site Presbíteros tem o Ordinário da Missa de São Pio V (ou seja, toda a parte fixa, sem as leituras e as orações próprias de cada Missa celebrada).

Aproveitando esse estímulo do Santo Padre, incentivo à todos a estudarem com carinho o Missal de São Pio V, conhecerem toda a rizqueza teológica e doutrinária multisecular presente em seus textos.

Convido também a assistirem uma Missa segundo esse rito, que podem ser encontradas nos seguintes endereços (os dois grupos estão em perfeita comunhão com a Igreja):

Capela do Menino Jesus e Santa Luzia (Adm. Apostólica S. João M. Vianney)
Rua Tabatingüera, nº 104, Centro - Telefone: (11) 3104-8032
Sábados às 12:00h, Domingos às 11:00h e às 16:30h.

Oratório N. Sra. do Bom Conselho (IBP - Instituto Bom Pastor)
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VIVA O PAPA !!!

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Confirmado pela Santa Sé!


A Santa Sé confirmou para amanhã pela manhã a publicação do Motu Proprio "Summorum Pontificum".


Et introibo ad altare Dei!

Ad Deum qui laetificat juventutem meam!


VIVA O PAPA!!!

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Summorum Pontificum

Segundo foi publicado pela agência I.Media (especializada em notícias do Vaticano), "Summorum Pontificum" é o nome do Motu Proprio de Bento XVI que dará liberdade de celebração para a Missa de São Pio V. A referida agência também confirma para o próximo sábado, dia 07, a publicação do documento.



Viva o Papa!

segunda-feira, 2 de julho de 2007

O Motu Proprio

Da esquerda para a direita: Burke, Bagnasco, Koch, Dziwisz, Tarcísio Bertone, Mvé Engone, o Papa, O'Malley, Castrillón-Hoyos, Ruini, Toppo, Ricard, Pell, Arinze e Murphy O'Connor


A foto acima registra a reunião que comentei no post anterior (abaixo). Não foram 30 bispos como inicialmente se noticiou.

A data para a publicação do tão aguardado Motu Proprio parece ser mesmo no próximo sábado, dia 07/07/07 (se for confirmado é uma data curiosa e interessantíssima, pois sabemos que o número 7 simboliza totalidade, perfeição...).

A propósito, hoje fazem 19 anos que o Papa João Paulo II publicou o Motu Proprio "Ecclesia Dei", na qual excomunga D. Marcel Lefebvre (fundador da Fraternidade São Pio X) por ordenar bispos sem autorização papal e concede o indulto para que os sacerdotes possam celebrar a Missa conforme o Rito de São Pio V, desde que tenham autorização do bispo diocesano. O papa Bento XVI pretende abolir essa necessidade da autorização, bastando existir um grupo de fiéis interessados e o sacerdote desejar atendê-los (se de fato será isso que o papa ordenará, só saberemos após a publicação).

No documento "Ecclesia Dei", João Paulo II pediu e, infelizmente, foi solenemente ignorado que: "além disso, em toda a parte deverá ser respeitado o espírito de todos aqueles que se sentem ligados à tradição litúrgica latina, mediante uma ampla e generosa aplicação das diretrizes, já há tempos emanadas pela Sé Apostólica, para o uso do Missal Romano segundo a edição típica de 1962".

Atualmente poucos respeitam os fiéis ligados à tradição litúrgica e muito menos há uma "ampla e generosa" aplicação do indulto.

Rezemos pelo Santo Padre e pelo clero.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Introibo ad altare Dei!

Et introibo ad altare Dei: ad Deum qui laetificat juventutem meam

Ontem o Cardeal Tarcísio Bertone se reuniu na Sala Bologna do Palácio Apostólico com mais ou menos 30 bispos do mundo inteiro (especula-se que eram presidentes das respectivas conferências episcopais) para apresentar o Motu Próprio que dará liberdade de celebração para a Missa de São Pio V (também chamada Missa Tridentina). Em um determinado momento o próprio Papa Bento XVI esteve presente e conversou em torno de uma hora com os bispos sobre esse documento.

O Motu Próprio vira acompanhado de uma carta do Papa explicando os motivos dessa liberação do Rito de São Pio V (atualmente o sacerdote precisa de uma autorização do bispo se quiser celebrar).

Gostei bastante dessa atitude do Papa de apresentar pessoalmente o documento a um grupo de bispos antes de divulgar à imprensa ou qualquer outro veículo mediático, demonstra sua preocupação em manter a unidade, não tomando uma decisão abrupta e independente do episcopado (Cardeal Arinze comentou outro dia que o Papa consultou várias vezes bispos e cardeais sobre o texto desse documento).

Agora o documento será enviado aos demais bispos do mundo inteiro com a data em que entrará em vigor. A data não é certa, mas alguns afirmam que será dia 07 de Julho.

Um comunicado em italiano sobre o acontecido pode ser lido no site do Vaticano: link.

terça-feira, 26 de junho de 2007

O Latim - parte II

Continuando a falar sobre o uso do Latim.

No post anterior comentei sobre um bom motivo para aprendermos algumas orações em Latim: é a língua de nossa Mãe! Também listei uma série de citações do Magistério favorável ao uso da língua latina na Missa. Em sua Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, o Papa Bento XVI incentiva que também sejam aprendidas e eventualmente "recitadas em latim as orações mais conhecidas da tradição da Igreja" (nº 62).

Nessa segunda parte cito algumas vantagens ao se usar o Latim. Tais vantagens foram retiradas de um folheto escrito por pe. José Edilson, da Adm. Apostólica São João M. Vianney, e distribuído há alguns anos na Capela Santa Luzia (onde, aliás, diariamente se celebra a Missa segundo o Rito de São Pio V por padres da citada Adm. Apostólica e devidamente autorizadas pelo então Arcebispo de São Paulo Dom Claudio Hummes).

As partes em vermelho são as originais do texto do pe. José Edilson.

É uma língua estável: pelo fato de ser uma língua morta, não está sujeita às evoluções próprias das línguas faladas pelo povo. É excelentíssima, por isso, para mostrar a sublimidade do Santo Sacrifício e, principalmente, para conservar a Fé, que acha na Liturgia sua expressão externa.

Aqui podemos utilizar como exemplo a resposta do povo à saudação final do sacerdote na Missa: 'Graças a Deus!'

No Latim é 'Deo Gratias'. Em português não se distingui se alguém está dando graças à Deus pela Missa que acabou de assistir ou se está desabafando aliviado por finalmente ter terminado a Missa...

'Graças a Deus' assume essas duas possibilidades na língua portuguesa. E aqui, neste caso, não é um problema da tradução, mas culturalmente a citada expressão acabou assumindo esses dois significados.

Talvez para evitar esse tipo de ambiguidade outras duas grandes religiões continuam utilizando uma língua separada e considerada sagrada para o culto: o Judaísmo utiliza o hebraico e o Islamismo o árabe. O fato dessas religiões utilizarem uma língua própria para o culto e que muitas vezes é desconhecida de seus membros, não ganha destaque e nem gera polêmica; mas é só o Papa falar em Missa em Latim que vira manchete de jornal e inúmeros colunistas ficam revoltados com o "atraso" da Igreja...


É uma língua fixa: aperfeiçoada com termos próprios formados pela legislação romana, possui grande clareza. No decorrer da História, somente os hereges se opuseram ao uso do latim no culto: no séc. XIII os cátaros e valdenses; mais tarde os hussitas e os protestantes; seguiram-nos os jansenitas e os católicos racionalistas. A razão disto é que pela mudança no modo de orar, eles infiltram as heresias pois a lei da oração é a lei da fé (lex orandi, lex credenci). O latim é, pois, uma barreira contra as heresias.

De fato, o latim tem uma força semântica muito grande, só equiparada pelo grego.

Por isso afirmou Pio XII: “O uso da Língua Latina é um eficaz antídoto contra todas as corruptelas da pura doutrina.” (Papa Pio XII, Encíclica Mediator Dei, nº 53)

Lex orandi, lex credenci: a maneira como rezamos expressa a fé que temos. É impressionante notar, assim, que a maneira como muitos sacerdotes celebram e zelam pela Missa expressa exatamente a fé que têm...

Sobre isso vejam Sacramentum Caritatis nº 34 à 42; sem esquecer a Ecclesia de Eucharistia nº 52: "O sacerdote, que celebra fielmente a Missa segundo as normas litúrgicas, e a comunidade, que às mesmas adere, demonstram de modo silencioso mas expressivo o seu amor à Igreja".


Língua misteriosa e santa: o latim, mediante seu caráter decoroso, suscita um sentido profundo no mistério eucarístico.

Eis algo que a liturgia em vernáculo e versus populum perdeu completamente: o sentido de mistério.

E o desejo de fazer a liturgia compreensível para o povo mais simples levou muitos sacerdotes e equipes de liturgia a rebaixá-la demais... quando o oposto deveria ter sido priorizado! O povo deve ser instruído, catequizado, 'elevado' para melhor conhecer os Santos Mistérios! E não o contrário, rebaixando e empobrecendo a Missa até poder ser compreendido pelo povo.

"Num mundo secularizado, em vez de procurar elevar os corações para a grandeza do Senhor, procurou-se muito mais, eu acredito, rebaixar os mistérios divinos a um nível banal" (Dom Malcolm Ranjith - entrevista citada no próximo item; não deixem de ler!).


Língua unitiva: na diversidade de povos, o Latim é grande sinal de unidade na Igreja. Todos podem rezar em uma só voz com a Cátedra de Pedro. Embora haja no Oriente línguas de culto, o Latim é a maior expressão da unidade no tempo e no espaço. O abandono do Latim após o Concílio Vaticano II abriu as portas para inúmeras divisões na Igreja no campo litúrgico com todas as suas consequências. Pode-se dizer, sem exagero, que o uso do vernáculo facilitou a transformação da Liturgia, em muitos lugares, numa colcha de retalhos ao sabor da livre inspiração de cada um.

Importante frisar que esse completo abandono do Latim se deu não por culpa direta do Concílio Vaticano II (e nem poderia ser diferente), mas por uma péssima e maldosa interpretação do mesmo, já que o Concílio mesmo não mandou abolir o Latim da liturgia!

Ele trata da Língua latina em dois pontos:

  1. “Deve conservar-se o uso do latim nos ritos latinos, salvo o direito particular.” (Constituição Sacrosanctum Concilium, nº 36, § 1)

  2. “Providencie-se que os fiéis possam juntamente rezar ou cantar em Língua Latina as partes do Ordinário que lhes competem.” (Constituição Sacrosanctum Concilium, nº 54)

Ou seja, no primeiro ponto o Concílio diz que o uso do vernáculo é um "direito particular", ou seja, deve ser usado como medida pastoral especial a ser decidida pelo bispo diocesano. O uso do vernáculo é a excessão que virou a regra! Infelizmente...

O segundo ponto demonstra que realmente não era intenção do Concílio abolir o Latim, pois pede que os fiéis sejam instruídos para saber rezar e cantar as partes que lhe competem nessa língua!

Por isso afirma o Código de Direito Canônico “Faça-se a celebração eucarística em língua latina ou outra língua, contanto que os textos litúrgicos tenham sido legitimamente aprovados.” (Cân. 928)

Sobre esses temas, tenhamos em mente que Nosso Senhor prometeu Sua assistência à Igreja e Ele não deixa de suscitar verdadeiros profetas que amam a Verdade e não temem anunciá-la! (vide, por exemplo, a entrevista de Dom Malcolm Ranjith ou o prefácio escrito pelo então Cardeal Ratzinger para o livro de pe. Uwe Michael Lang, além de um recente artigo do pe. Nicola Brux; exemplos não faltam!).


Mas voltemos aos argumentos de pe. José Edilson para o uso do Latim...


Mantém a pureza da liturgia: o Latim impede que elementos estranhos ao culto possam ser usados na Liturgia. Quando vemos hoje Missas celebradas com danças sensuais, pagãs, ao ritmo de Rock, usando termos chulos, aos som de atabaques e coisas semelhantes, onde o culto a Deus é substituido pelo culto do homem, é porque para muitos já se perdeu o sentido do sagrado, do objeto da Liturgia, que se torna propriedade particular do celebrante ou da comunidade, e não patrimônio da Igreja.

Sobre essa perda do sentido do sagrado, muito se deve às invenções de "animadores" da liturgia que a cada domingo tentam inventar maneiras novas para o povo participar mais "ativamente" da celebração. Nada mais ilusório essa arrogante pretensão de ensinar a Igreja como deve celebrar! O máximo que conseguem é fazer com que o povo perca o sentido de mistério sagrado que envolve a liturgia...

"Desenvolveu-se, de fato, a impressão de que a liturgia seja 'feita', que não seja algo cuja existência nos precede, algo que nos é 'dado', mas algo que depende das nossas decisões. Disto se segue, como consequência, que não se reconheça essa capacidade de decisão só aos especialistas ou a uma autoridade central, mas que, definitivamente, qualquer 'comunidade' queira se dar uma liturgia própria. Mas, quando a liturgia é algo que qualquer um faz por si mesmo, então desaparece aquela que é a sua verdadeira qualidade: o encontro com o mistério, que não é um produto nosso, mas a nossa origem e a fonte da nossa vida". (Cardeal Joseph Ratzinger, citado por Andrea Tornielli em "Bento XVI - O Guardião da Fé", pag. 208).


É a língua tradicional mais usada na Igreja: o Latim nos mantém em contato com todo o passado da Igreja, com a beleza do canto Gregoriano, com sua arte, cultura e nos leva à visão da Igreja como um todo historicamente ininterrupto.


São esses seis os pontos vantajosos listados por pe. Edilson para que se utilize o Latim.


Pretendo voltar ainda à esse tema.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Ainda sobre o CONAR

Wagner Moura comenta em seu blog sobre a denúncia feita ao CONAR do comercial da Marilan Alimentos S/A.

Além do caso Marilan, ele apresenta outros também ofensivos à Fé Católica e que sofreram sanções por parte deste órgão.

Vale a pena conferir!

quarta-feira, 20 de junho de 2007

O Latim - parte I

O verdadeiro horror que uma parcela considerável dos sacerdotes têm ao uso do Latim sempre me causou surpresa. Se é a língua oficial da Igreja, porque fugir tanto dela?

Falar em Missa em Latim, então, tornou-se praticamente uma blasfêmia!

Essa minha surpresa aumentava na proporção em que eu tomava conhecimento do grande apreço que o Magistério da Igreja teve e tem pelo Latim (vide citações abaixo). E aí a surpresa já começava a dar lugar a uma certa decepção...

Recentemente eu li uma biografia do papa Bento XVI escrita por Andrea Tornielli. Em um capítulo em que o autor analisa o pensamento do Cardeal Ratzinger sobre liturgia, ele cita um trecho em que o cardeal fala sobre o uso do Latim: "A linguagem da Mãe (a Igreja) se torna nossa; aprendemos a falar nela e com ela, de modo que as suas palavras se tornam, pouco a pouco, sobre os nossos lábios, as nossas palavras".

Uma perspectiva nova para a questão do uso do Latim se abriu diante dos meus olhos!

Devo amar e até aprender algumas orações em Latim por um motivo simples: é a língua de minha Mãe! Agrada-a muito que seus filhos saibam rezar em seu idioma, para que as palavras dela se tornem - como disse o Cardeal - "sobre os nossos lábios, as nossas palavras"!

Nesse momento penso, paralelamente, em tantos descendentes de estrangeiros que temos no Brasil. Será que têm pela língua nativa de seus pais ou avós o mesmo desprezo que muitos católicos têm pelo Latim? Como se sentiriam as mães italianas, japonesas, alemãs, que ouvissem de seus filhos palavras de desprezo pelo italiano, japonês, alemão? Nesse sentido, como será que a Igreja, nossa Mãe, se sente ao ver, por exemplo, um filho querido - um conhecidíssimo sacerdote - dizer em uma entrevista que é ignorante do idioma a ponto de que "se me mandarem falar latim, vou fazer: 'Au, au, au!'” ????

Assim, se é excelente que saibamos algumas orações em Latim para rezar com a Igreja, quanto mais não será melhor que a Santa Missa seja também em Latim! Toda a Família Católica reunida rezando e oferecendo à Deus o Sacrifício Perfeito em um mesmo e santo idioma.

Não tenho aqui a intenção de criticar absolutamente o uso do vernáculo, que é legítimo e tem seu valor, mas me entristece esse ódio que se criou ao uso do Latim.

Que bom seria se tivessemos naturalmente em nossas paróquias Missas sendo celebradas em Latim. Digo 'naturalmente' no sentido que isso ocorrese com naturalidade. Porque atualmente ocorre o oposto! Parece uma coisa do outro mundo querer o Latim e até gera uma tremenda polêmica a simples menção de se preferir a Missa em Latim ou, por parte de sacerdotes, de se querer celebrar assim a Missa.

O que está, definitivamente, em oposição ao querer da Igreja! Inclusive o Concílio Vaticano II jamais aboliu o uso do Latim na Missa.


Segue uma coletânea de textos do Magistério tratando do Latim.


“Se alguém disser que o rito da Igreja Romana (...) só se deve celebrar a Missa em língua corrente [vernácula](...), seja excomungado”
(Concílio de Trento, Cânones sobre o Santíssimo Sacrifício da Missa, cânon 9).

“A Língua Latina é a língua própria da Igreja Romana” (Papa São Pio X, Encíclica Inter Pastoralis Officii).

“O uso da Língua Latina é um claro e nobre indício de unidade e um eficaz antídoto contra todas as corruptelas da pura doutrina.” (Papa Pio XII, Encíclica Mediator Dei, nº 53)

“Que o antigo uso da Língua Latina seja mantido, e onde houver caído quase em abandono, seja absolutamente restabelecido. – Ninguém por afã de novidade escreva contra o uso da Língua Latina nos sagrados ritos da Liturgia.” (Papa João XXIII, Encíclica Veterum Sapientia).

“Deve conservar-se o uso do latim nos ritos latinos, salvo o direito particular.” (Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium, nº 36, § 1)

“Providencie-se que os fiéis possam juntamente rezar ou cantar em Língua Latina as partes do Ordinário que lhes competem.” (Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium, nº 54)

Faça-se a celebração eucarística em língua latina ou outra língua, contanto que os textos litúrgicos tenham sido legitimamente aprovados.” (Código de Direito Canônico, Cân. 928)

Missa se celebre quer em língua latina ou quer noutra língua, contanto que se usem textos litúrgicos que têm sido aprovados, de acordo com as normas do direito. Excetuadas as Celebrações da Missa que, de acordo com as horas e os momentos, a autoridade eclesiástica estabelece que se façam na língua do povo, sempre e em qualquer lugar é lícito aos sacerdotes celebrar o santo Sacrifício em latim.” (Instrução Redemptionis Sacramentum, nº 112)


“O que acabo de afirmar não deve, porém, ofuscar o valor destas grandes liturgias; penso neste momento, em particular, às celebrações que têm lugar durante encontros internacionais, cada vez mais frequentes hoje, e que devem justamente ser valorizadas. A fim de exprimir melhor a unidade e a universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi sugerido pelo Sínodo dos Bispos, em sintonia com as directrizes do Concílio Vaticano II: exceptuando as leituras, a homilia e a oração dos fiéis, é bom que tais celebrações sejam em língua latina; sejam igualmente recitadas em latim as orações mais conhecidas da tradição da Igreja e, eventualmente, entoadas algumas partes em canto gregoriano. A nível geral, peço que os futuros sacerdotes sejam preparados, desde o tempo do seminário, para compreender e celebrar a Santa Missa em latim, bem como para usar textos latinos e entoar o canto gregoriano; nem se transcure a possibilidade de formar os próprios fiéis para saberem, em latim, as orações mais comuns e cantarem, em gregoriano, determinadas partes da liturgia”
(Papa Bento XVI, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, nº 62).

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Ainda vale a pena lutar!

É como diz aquele ditado: "O mal prospera quando os bons se calam". Se os bons não se calassem, certas coisas poderiam deixar de acontecer...

A empresa Marilan Alimentos S/A está veiculando um comercial de sua nova linha de torradas Magic Toast. O referido comercial se mostrou ofensivo e desrespeitoso com a Fé Católica ao parodiar o Sacramento da Confissão (
veja o comercial).

Um grupo de católicos se organizou e enviou, individualmente, reclamações ao CONAR (Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária) e à própria Marilan.

Uma Representação foi aberta por esse órgão regulamentador e o caso foi recentemente julgado.

O próprio CONAR se encarrega de avisar os reclamantes sobre o andamento do processo, sendo que a seguinte mensagem foi recebida por quem reclamou (o destaque em vermelho é meu):


Prezado(a) Sr (a). Luiz Henrique,

Informamos que a queixa enviada pelo(a) Sr. (a) do anúncio “MARILAN MAGIC TOAST É MUITO MAIS QUE UMA TORRADA“ – Rep.120/07 - foi levada a julgamento pelo Conselho de Ética do CONAR, tendo sido deliberado parcialmente por maioria, em 1ª instância, a alteração do anúncio.

O
andamento poderá ser acompanhado dentro em breve, pelo site do CONAR (
www.conar.org.br ) em Decisões e Casos (resumo das decisões) .

Atenciosamente,

Secretaria Executiva
CONAR - Conselho
Nacional de Auto-regulamentação Publicitária



Como essa decisão é em "1ª instância", creio que a Marilan possa recorrer. Não sei exatamente como são os trâmites do CONAR. Mas fica o registro de que ainda é possível defender a Fé Católica. Não adianta se esconder num canto e reclamar do mundo em que vivemos.


"Digo-vos: se estes se calarem, clamarão as pedras!"
(Lc 19,40)

sexta-feira, 15 de junho de 2007

A intolerância da Igreja

Com o excerto abaixo, retirado de uma obra do Pe. Penido, que trata do porque da Igreja ser intolerante com o erro e não se amoldar ao mundo, quero iniciar as postagens desse blog. Não tenho grandes pretensões, dada minhas limitações, mas pretendo registrar aqui notícias interessantes sobre a Igreja e a sociedade, além de comentários sobre doutrina, liturgia e apologética.

Inclua esse blog entre seus favoritos e visite sempre!

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Cristo expulsa os vendilhões do Templo - Jacob Jordaens - 1650

"Quem entender corretamente o axioma 'Fora da Igreja não há salvação', terá compreensão muito melhor de certas atitudes da Igreja, tantas vezes taxadas de intolerantes, fanáticas ou imperialistas.

A chamada intolerância da Igreja é apenas a consciência de que Cristo lhe confiou as chaves do Reino dos céus e que, portanto, os homens se salvam normalmente quando são membros integrais do Corpo Místico. Sem dúvida já o repetimos muitas vezes que não é apenas de forma teórica, mas também na prática é possível a salvação no seio do paganismo, da heresia, do cisma, para quem está de boa fé e vive segundo sua consciência e os ímpetos secretos da graça. Porém não resta dúvida de que será muito mais difícil e arriscado. É, pois, lógico que a Igreja queira proteger seus membros contra este risco; lógico que ela resguarde com intransigência, não já privilégios seus, senão verdades às quais é a primeira a submeter-se. Muitas vezes perguntam por que a Igreja não faz concessões, não se amolda à mentalidade de hoje, permitindo, por exemplo, o divórcio, ou abandonando a crença no inferno. Esquecem que não está nas mãos da Igreja. Ela não tem o direito de variar a seu arbítrio o dogma e a moral. Estes lhe foram confiados pelo Esposo como um simples 'depósito' a ser fielmente guardado (II Tm 1,14). Não pode desviá-lo. Encara, então, com destemor a impopularidade, não já para acautelar interesses humanos, mas para defender a causa de Cristo.

Atiram à Igreja a pecha de intolerante não apenas por não querer pactuar com seitas dissidentes ou governos anti-cristãos, mas ainda porque impõe a seus filhos uma série de interdições. Mas o motivo é sempre o mesmo. Os fiéis - tal qual o 'depósito' - não pertencem aos patores, mas a Cristo. 'Apascenta as minhas ovelhas', disse Jesus a Pedro (Jo 21, 15-17). É, pois, dever da Igreja fazer o impossível para concervar aos fiéis o caráter de membros integrais; tomar cuidado dessas conquistas que ela deu a Cristo, velar por elas, alimentar-lhes o fervor, resguardá-las para que nenhuma só venha a desgarrar-se e a perder-se". (O Mistério da Igreja - Pe. Dr. M. Teixeira-Leite Penido - Ed. Vozes - 1956 - pgs. 193/194)