quinta-feira, 7 de maio de 2009

No descompasso da Igreja

Em dezembro de 2007 Dom Vilson Dias de Oliveira, bispo de Limeira, concedeu uma entrevista ao "Jornal de Limeira". Tomei conhecimento agora através do blog Fratres in Unum.

Embora já tenha mais de ano essa entrevista, gostaria de tecer alguns comentários aqui sobre os dizeres de Dom Vilson.

Nessa entrevista, entre outras coisas, ele foi questionado sobre a liberação da Missa Tridentina, a ordenação de mulheres e a Teologia da Libertação. Nos três casos o senhor bispo ou mentiu, ou omitiu, ou está completamente desinformado sobre o que acontece na Santa Igreja.

Sobre a Missa, afirma Dom Vilson: "O papa tentou responder para comunidades mais tradicionais. Na verdade, existem grupos no mundo hoje que têm essa linha tradicionalista, de poder rezar em latim. Acho que o papa tentou não desmerecer esse pessoal e deixou em aberto. Agora, isso não quer dizer que na Diocese de Limeira vai ter missa em latim. Diria que depois do Concílio (2º Concílio do Vaticano, em 1963), quando se celebraram as missas em português, as pessoas passaram a participar mais. Felizmente não temos esses grupos ultraconservadores na diocese. Eu não faria polêmica em torno dessa história. Rezamos na nossa língua e vamos continuar assim. Vamos ter missa em português e ponto final. Desde o Vaticano 2º houve muitos avanços".

Primeiro - foi um capricho dos reformadores liturgicos, e não do Concílio, a total liberação do vernáculo na liturgia, o que era para ser excessão virou regra. O Concílio na verdade mandou que se mantivesse o latim na Missa.

Segundo - sobre as intenções do Santo Padre ao publicar o Motu Proprio Summorum Pontificum, afirma o Cardeal Cañizares (prefeito da Congregação para o Culto Divino e antigo colaborador do Papa, a ponto de ser conhecido como "o pequeno Ratzinger") ao prefaciar o livro A Reforma de Bento XVI: "a vontade do Papa não foi unicamente satisfazer aos seguidores de Dom Lefebvre, nem limitar-se a responder aos justos desejos dos fiéis que se sentem ligados, por diversos motivos, à herança litúrgica representada pelo rito romano, mas também, e de maneira especial, abrir a riqueza litúrgica da Igreja A TODOS OS FIÉIS, tornando possível assim a descoberta dos tesouros do patrimônio litúrgico da Igreja a quem ainda o ignora. Quantas vezes a atitude dos que os menosprezam não é devida a outra coisa senão a este desconhecimento! Por isso, considerado a partir deste último aspecto, o Motu Proprio tem sentido transcendente à existência ou não de conflitos: ainda quando não houvesse nenhum “tradicionalista” a quem satisfazer, este “descobrimento” teria sido suficiente para justificar as disposições do Papa.

Será que é necessário acrescentar algo às palavras do Cardeal?

Em outro momento, e este é o mais grave, Dom Vilson se sai com essa sobre o sacerdócio feminino: "Agora, você vai dizer: "amanhã pode acontecer?". Pode ser, você tem que respeitar a caminhada da Igreja, o tempo. Por enquanto, a Igreja diz que não, por enquanto não posso levantar uma bandeira e dizer "faça isso". Eles olham a experiência do passado para olhar essa questão. Diria o seguinte: na América Latina, a mulher hoje participa muito mais, tem maior presença da Igreja, é mais engajada, mais participante. Ela não é só maior em número, ela tem maior participação nos ministérios da igreja".

Será que ele desconhece a Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis, de João Paulo II?

Nela o Papa de venerável memória afirma: "Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cfr Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja".

Por fim, Dom Vilson ainda faz um afago nessa praga dos infernos chamada Teologia da Libertação, que já foi devidamente condenana pela Santa Sé. Afirma ele que trata-se de uma teolgia como qualquer outra e quem tem seus méritos. E ainda contraria o óbvio ululante, contraria os fatos históricos ao afirmar que a Teologia da Libertação não ajudou a fundar o PT! Até os inglesas da "The Economist" sabem disso!

É no mínimo curiosos a maneira como Dom Vilson se comporta nesses três casos. Aquilo que o Papa libera, o bispo condena de forma taxativa: "Vamos ter missa em português e ponto final". Aquilo que os Papa condenam, o bispo leva em consideração: "a ordenação de mulheres é possível e a Teologia da Libertação tem seus méritos".

Dom Vilson parece seguir à risca o modo de agir da CNBB (conforme já escrevi aqui), que condena o que não precisa e é omissa ou ambígua com o que deveria condenar.

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